João Rodrigues, atleta dos Amigos da Montanha, quebra recorde absoluto da prova de trail mais longa de Portugal
O atleta dos Amigos da Montanha, João Rodrigues, foi o grande vencedor do ALUT 2024 e quebrou o recorde absoluto da prova.
João Rodrigues correu 305 km no tempo de 37h17m28s que lhe conferiu o 1.º Lugar da Geral.
O atleta de trail superou o anterior recorde de Paul Giblin (38h06), conquistado em 2019, e mostrou o verdadeiro significado de superação.
ALUT – Algarviana Ultra Trail, a prova mais longa de Portugal. “O meu sonho foi realizado, não só ganhei como destronei o recorde do Britânico Paul Gibly que era de 38h06. Eu consegui correr 305 km em 37h17. Nem acredito que com 47 anos continuo a concretizar estes resultados” diz-nos João Rodrigues, ainda num misto de muita emoção e de adrenalina que teima em não passar (e mesmo em não deixar dormir para o merecido repouso).
“Vou contar como tudo começou”, acrescenta. “Quatro meses antes estava com uma ideia que não me saía da cabeça. Fazer o ALUT, sim ou não? Mas tinha receio. Como vou fazer o ALUT? São 4 dias para o Algarve sozinho para correr. É melhor não.”
Foi então que desabafou com o amigo Igor "sabes Igor um dia tenho que ir ao ALUT, tenho que arranjar quem me queira ajudar.” E foi rápida a resposta do Igor Lysyi. “Vou eu, tiro dias de férias e vamos.” Foi nesse preciso momento que o receio acabou.
E assim, ainda na euforia desta pronta resposta do também colega de corridas, começou o grande desafio de preparar o corpo e a mente com a dedicação de “muitas horas ao treino e a estudar a estratégia adequada.”
A partir daí foram meses de treinos diários e estudo aprofundado sobre como era a prova, como gerir, dormir ou não dormir, que sapatilhas levar, quais as partes mais difíceis do percurso, como é o terreno, entre muitas outras dúvidas que surgiam. O primeiro foco foi saber o máximo possível para não ter surpresas indesejáveis. “E tinha agora a noção que esta era uma prova com as minhas características”, refere o vencedor do ALUT.
Depois de muito estudo e treino, de mais de 20 horas semanais, chegava o grande dia. Estava pronto e com um objetivo de fazer a prova dentro de 40h. As dúvidas eram muitas mas o apoio era enorme. “Todos os amigos acreditavam que eu iria conseguir. Na verdade só eu estava receoso, mas com a certeza que tinha que arriscar. A superação é isso mesmo: só sabemos se tentarmos e eu queria tentar.”, confessa-nos.
No dia antes “cheguei a Sagres quase no final do dia. Fui comer e dormir, dormir o máximo que conseguisse, pois a prova começava às 14h30 do dia 28 de dezembro.” De manhã, partida até Alcoutim no outro lado do Algarve. O objetivo: “eu contra as 40h e a pensar: tenho que arriscar mas não demasiado porque o corpo pode não aguentar.” É neste momento que todos os cuidados de preparação e treino fazem a diferença. Saber os limites, saber o comportamento do corpo, não é correr só por correr, é correr com objetivos e estratégia. “Arrisquei e parti com o ritmo que achava que era o ideal para mim, embora todos considerassem que estava demasiado rápido, que deveria baixar a velocidade porque isto não era uma corrida de 30 km. Mas eu estava bem e continuei com o meu objetivo.”
Depois de metade da prova, as 40h eram cada vez mais uma realidade. A noite tinha acabado, estava a começar outro dia e já com 15h a correr, o João chegava aos abastecimentos muito antes das previsões da organização. Era uma surpresa para todos o facto de conseguir estar a correr continuamente há tantas horas. O segundo dia começou e a estratégia era arriscar tudo enquanto fosse dia, porque na segunda noite possivelmente iria ter que dormir.
A outra noite chegou, estava a correr há 27 horas e o objetivo das 40 horas de prova era, agora, quase certo. Na segunda noite o cansaço era muito, mas a estratégia parecia estar a dar resultado e os atletas mais próximos estavam 40 km atrás, João Rodrigues não tinha pressão. Foi quando faltavam 80 km que as dúvidas surgiram: dormir 30 minutos e descansar para depois terminar a prova ou tentar bater o recorde. Quanto pensou que era possível bater as 38h06 foi como se uma nova prova começasse e tinha um novo propósito, confessa. “Queria deixar a minha marca e iria dar o meu melhor até a linha de meta custasse o que custasse... Sofrer e continuar a sofrer até a linha de meta, cada quilómetro parecia uma eternidade estava a ser muito duro, nunca tinha sofrido tanto.”
E nesta fase o apoio das pessoas foi fundamental para conseguir: “elas incentivavam e acreditavam que eu iria conseguir. Isso fez com que eu estivesse sempre muito desperto e o sono nunca apareceu.”
Foi muito melhor do que no sonho confessa João Rodrigues “ganhei e bati o recorde. Acreditei e trabalhei para conseguir este feito, mas não consegui sozinho. Foi necessário a minha equipa de apoio. A minha esposa que me apoia na prova, mas também antes, na preparação da sua aletria única e de toda a outra comida que eu como durante a prova. E o meu amigo Igor que treinou comigo, ajudando-me a não perder o foco, e colaborou em toda a enorme logística que uma prova destas obriga. Foram os meus grandes apoios e sem eles era impossível fazer o ALUT em 37h17.”